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quarta-feira, 2 de março de 2011

Ladrão Brasileiro

E POR FALAR EM LADRÃO DE GALINHAS...




"Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e

levaram para a delegacia.

- Que vida mansa, heim, vagabundo ? Roubando galinha para ter o que

comer sem precisar trabalhar. Vai para cadeia!

- Não era para mim não. Era para vender.

- Pior. Venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio

estabelecido. Sem-vergonha!

- Mas eu vendia mais caro.

- Mais caro?

- Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as

minhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as

minhas botavam ovos marrons.

- Mas eram as mesmas galinhas, safado.

- Os ovos das minhas eu pintava.

- Que grande pilantra...

Mas já havia um certo respeito no tom do delegado.

- Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

- Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais

boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços

dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos

de galinheiro a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio.

Ou, no caso, um ovigopólio.

- E o que você faz com o lucro do seu negócio?

- Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei

alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui exclusividade no

suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e

superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a

cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada. Depois

perguntou:

- Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está

milionário?

- Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que

tenho depositado ilegalmente no exterior.

- E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

- Às vezes. Sabe como é.

- Não sei não, excelência. Me explique.

- É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa.

Do risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma

coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me

sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora. Fui preso,

finalmente. Vou para a cadeia. É uma experiência nova.

- O que e isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.

- Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

- Sim. Mas primário, e com esses antecedentes..."



Luís Fernando Veríssimo

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